quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A cidade como natureza, eu mesmo como natureza I



A profusão de sensações e sentimentos me impede de tratar qualquer coisa objetivamente. A mistura de sentimentos passados, com a mais absoluta liberdade e maravilhamento do presente, com a gravidade de construir futuro, a suavidade de compreender o dentro, sem ânsia, sem desejos, sem sobressaltos, quase sem lembranças, com emoções imperfeitas a me dar vagamente uma ideia de casa, e uma ideia de vida além da que vive estritamente o momento que eu vivo, só, e no sonho das sensações. Essas emoções imperfeitas são o fio da pipa, que prendem o meu sonho de viver, alado, à identidade terrestre,me traz a uma história que eu devo contar. 

Antes de narrar o que me aconteceu desde que sai com a bicicleta definitivamente, rumo à estrada pro norte, devo dizer, só para manter a inteireza dessa realidade, que nem tudo são flores. Ainda me restava uma borra de mágoas do que deixei para trás, no fundo de uma xícara usada. Pequena o suficiente para ser notada. Não é mais uma infusão viciante de algo que aquece e irrita. Eu já não vejo o que beber, só lembro, eventualmente chateado, que tenho de lavar a louça. Ainda devo confessar que me resta também uma onda de desejos infantis em impressões partilhadas com gente de casa, gente que dá vontade de tocar, do Rio de Janeiro que me criou e que me cria amores. Rio ao qual eu pertenço e ao qual voltarei. Um desejo que eu gostei de deixar incontido -para exercitar o sonho e sentir de novo ouvidos e fragilidades de gente.

Dito isso, prossigo. 

Na manhã do dia 03 de setembro, segunda feira, eu acordei 8 da manhã. Ajeitei os últimos detalhes da bicicleta, que é mais pesada que a outra, mas pelo menos já tem bagageiro e cestinha (o que me ajudou bastante), e parti até as barcas. Das barcas de Niterói fui para São Gonçalo, pela BR 101;

Parei no segundo posto Shell da rodovia, em Jardim Catarina. A frentista estava abastecendo um caminhão baú bem velhinho. Enquanto  ela abastecia, perguntei se conseguiria carona para o nordeste ali. Ela fez uma cara super feia, dizendo que achava muito difícil que eu conseguisse carona para qualquer lugar que fosse. Reparei no cara que dirigia o caminhão baú e achei o sujeito simpático. Perguntei seu nome, e para onde ia. 







Era o João, estava indo para Campos, 300 quilômetros ao norte, e me deu uma carona.  Eram duas da tarde.

O João era um cara muito simpático e simples, quase infantil. Tinha suas idiotices e violências como qualquer um (não comigo, em algumas de suas histórias e causos) mas era um cara bom, e solitário. Não é muito delicado falar disso, mas é inevitável para mim: Ele ganha 2.000 reais por mês, mais 90 reais de diária para comer. Não que isso seja muito, ou sequer justo. Mas eu fiquei impressionado por considerar que ser caminhoneiro já uma vida melhor do que a da "cidade" e a vida de "mercado". Paramos para descarregar em Macaé, e eu o ajudei a descarregar. Ele deu carona também para um bombeiro até a entrada de Campos.

Quando chegamos no Atacadão de Campos eram quase dez da noite. O João pagou o meu jantar em um posto e me deu 20 reais, por tê-lo ajudado a descarregar. Agora eu já tinha mais dinheiro do que quando sai de casa. Estava alimentado e bastante ao norte! Perfeito. O atacadão não estava mais aberto para descarregar. O caminhoneiro João ia dormir encostado na entrada. No posto onde estávamos não tinha mais caminhões, e me recomendaram um outro, oito quilômetros dali. Mas eu não iria pedalar na BR a noite. Acabei pedindo para dormir na traseira do caminhão, e o João deixou.


Quando eu deitei para dormir estava bem agasalhado, puxei o computador, uns fones de ouvido, e pus o disco "Terra" do Sá, Rodrix, e Guarabyra. Notar a improbabilidade deliciosa daquela situação, notar a natureza selvagem e tomar parte dela, socialmente, notar a amabilidade do mundo que eu explorava... todas essas notâncias me comoveram de um modo muito inteiro, e mesmo dentro do caminhão fechado, eu pude ver as estrelas e sentir a grama embaixo de mim, como uma memória proustiana de algo que eu não vivi de verdade naquele momento.Embora tenha vivido intensamente dentro de mim naquele momento. Senti uma ponta de saudade doída,  mas orgulhosa e calejada, dos antigos presentes da vida, dos que quebraram, dos que foram embora, enquanto observava a capacidade infinita do universo de nos proporcionar o desembrulhar de novas e insondáveis dádivas. Apesar de doída, essa saudade orgulhosa foi boa. Pela primeira vez despida de mágoas. Talvez por ser orgulhosa. A despeito de tudo, eu me orgulhava das fotos, e das minhas mãos, e da minha língua... Eu me orgulhava do carinho e do sonho, me orgulhava de não ter tido medo, e de ter feito o tempo todo exatamente o que eu quis fazer. Acabou. Eu estava na cura. Ressentimentos só quando deixo alguma atenção colidir no passado. Mas eu estava agora exatamente onde eu queria estar quando comecei essa viagem. Estava mergulhado no oceano do futuro, e no caminho da minha própria natureza. Na traseira do caminhão nada atrás de mim me interessava. Tinha esgotado a morte do meu antigo norte, e também a minha própria curiosidade quanto a ele. Tudo que eu chamei de família um dia, tudo que eu considerei casa, estava definitivamente fora da minha vista e fora de qualquer plano futuro de contato. Eu tive certeza de que iria sobreviver sem nenhum dos grilhões, sobretudo os da estupidez, do abandono, e do medo. Eu nunca senti um alívio tão enorme na vida, completamente sozinho.
Acordei  seis da manhã, no dia 04 de setembro, enérgico, renovado, quase eufórico. A sorte do primeiro dia se alastrou no meu corpo. Arrumei as coisas, me despedi do João, e parti, rumo ao norte mais uma vez.O pessoal do atacadão iria descarregar em instantes e então ele voltaria para Amparo, no sul de São Paulo; sua casa. 

Tentei carona em vários postos, o tempo estava fechando. Não consegui nada. Pedalei 60 quilômetros até a fronteira com o Espírito Santo. Foi bem mágico. As florestas de eucalipto podem ser ecologicamente incorretas, mas tem um cheiro muito agradável, principalmente sob a chuva fina. Vi diversos tipos de plantações e paisagens. Uma hora entre  a pastagem na minha direita, e os eucaliptos a minha esquerda, com essa garoa fina que mais me refrescava do que molhava, a bicicleta pegou muita velocidade na descida. Muita velocidade mesmo, estava bem pesada, duas mochilas, o bagageiro, etc. Um misto de medo e excitação maravilhosos me tomaram a uns 40, 50 kms\hora. Eu gritei : - LIIIIIIVREEEEEEEE. E o vento, a velocidade, a paisagem, o futuro incerto e mágico,se incorporavam à minha voz em uma mensagem única para a minha alma, e para o universo. Pedalava sem parar, sem descer para andar. Só parei quando vi coco gelado por R$1,50, seis quilômetros antes do Espírito Santo, na banca de  um senhor botafoguense.


 Lá depois da fronteira com o Espírito Santo tinha um posto fiscal, onde todo caminhão de carga era "obrigado" a parar. Quando eu entrei no restaurante\lojinha do posto, o atend
ente me olhou e disse: "nós temos banheiro com água quente, se você quiser tomar banho" antes que eu pudesse dar boa tarde. Era meio dia, e eu fui tomar banho. Depois, no mesmo posto, almocei um PF de 7 reais que dava para duas pessoas fácil, tinha arroz, batata, macarrão, feijão, farofa, salada. Vi uma entrevista com o neurocirurgião do Miguel Couto que tinha uma história muito bonita. Pena que a entrevistadora era a imbecil da Fátima Bernardes. Depois de ter comido e tomado banho, ajeitei novamente minhas coisas e fui tentar carona. Passaram vários caminhões e nenhum podia me dar carona, ou eram lacrados, ou rastreados, ou não tinham lugar para bicicleta. Fiquei mais de uma hora tentando. Pensei que não queria passar a noite no posto e tentava me decidir se continuava tentando, ou se pedalava até Cachoeiro, mais 70 quilômetros. Não podia esperar muito, senão ia pedalar a noite.  Aquele posto de fiscalização definitivamente não era o melhor lugar para pegar carona. Quando estava quase partindo, convenci dois caras que estavam indo para Cariacica (uns 15 quilômetros de Vitória) a me levar. Foi bem mais difícil do que com o João, dessa vez eu tive que insistir muito. Mas lá se foram outros 130 quilômetros. Os caras acabaram se mostrando muito simpáticos, embora eu já não lembre o nome deles.

Quando cheguei em Vitória (depois de descer em Cariacica e pedalar o restante) , graças aos vinte reais que o João havia me dado, ainda tinha, apesar do PF, do coco, da passagem da barca e qualquer outro gasto que não me lembro, mais dinheiro do que tinha quando sai de casa. A sensação de entrar, assim, de graça, em outra capital, já tão distante, foi profundamente gloriosa.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

A corrida começa dentro de você.


E um dia o palhaço, cansado de tanto sofrer, quebrou o picadeiro e gritou com a atriz:

- como você conseguiu ser feliz, depois de tanto me fazer sofrer?

Nesse momento, a ferida virou cicatriz.

E fechou.



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Amanheceu o novo dia

O silêncio do mundo me matou.
O seu silêncio me matou.
Novas cores me fazem despertar.
Leve acordar, eterno descobrir.
A dor, aos poucos, se cobre de esperança.
Eu sempre quis te ouvir.
Mas a hora é de mergulhar.

Olha lá, no horizonte:

- Um homem feliz existe.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Hora de partir

Dor, impossivelmente real, desconhecidamente certa. Dor física, chega como uma náusea impossível de conter. Dor, como há muito tempo eu não sentia. Dor de febre, dor de criança. Uma dor de devastação na floresta. Se tivesse um animal selvagem na minha caixa toráxica, vivo, tentando sair, provavelmente eu estaria menos incomodado.

Dor do mundo. Dor de mim. Dor de amor.

Vou me lavar com uma bucha de sol, estrada e fome.
Dar textura à minha cara, para vestir com a minha dor.

Sou livre.
Nada mais é necessário, nada.

"Just like a paper tiger
Torn apart by idle hands
Through the helter skelter morning
Fix yourself while you still can
No more ashes to ashes
No more cinders from the sky
All the laws of creation
Tell a dead man how to die

...

There's one road to the morning
There's one road to the truth
There's one road back to civilization
But there's no road back to you...."



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os 130 quilômetros mais duros do caminho.

O início do dia.

No hospital de Maricá, depois de escrever aquele post, eu descobri que do lado de dentro não podia deitar (o amigo da foto no primeiro post logo depois foi perturbado pelo guarda municipal) e no banquinho de fora, apesar de estar bem seguro, com água e banheiro por perto, o frio era insuportável. Isso funciona assim para impedir que os moradores de rua de Maricá tenham um lugar seguro e razoavelmente não-violento para descansar. Ou seja:  não dormi nem duas horas.

Pelo menos me estimulou a sair bem cedo, e antes de 6:30 eu já estava pegando a estrada da Gamboa, rumo ao litoral de saquarema, para evitar as subidas mais acirradas da Amaral Peixoto. Logo cedo, na estrada de terra, consegui um pão com manteiga, água e uma maçã, em um bar desses de interior. Tinha pedido água e uma fruta, ganhei o pão com manteiga de camaradagem.

Só que, conforme eu ia me aproximando do litoral, variando entre estradas de terra e asfaltadas, o chão ia ficando mais arenoso e o vento começou a castigar muito cruelmente. A mochila estava se tornando insuportável, e chegando à beira mar em Jaconé eu decidi, já que tinha partido bem cedo, descansar a mochila e ir andando. Com aquele vento, o chão de terra, e a mochila, se eu não parasse eventualmente para ir andando, ia me morrer exausto no caminho.

 Quando eu tentava voltar a pedalar, o vento me fazia acreditar que a subida teria sido uma escolha melhor, e eu não conseguia fazer nem um quilômetro inteiro pedalando. O lugar é muito bonito, os lagos são muito bonitos e o dia, apesar de ser cruel, estava lindo. Consegui encher a minha garrafinha de água várias vezes (devo ter bebido uns 10 litros durante o percurso até Rio das Ostras), comecei a ficar muito agoniado com o atraso. Não era para eu ficar agoniado. O Cansaço de não ter dormido, do vento castigando, da mochila que ficava cada vez mais pesada, a vontade de devolver a bicicleta que eu peguei "emprestada" em pouco tempo, me fez pensar em alguma coisas sobre o modo dessa viagem. Em saquarema eu não aguentei mais, peguei um quarto do meu orçamento, e comprei um bagageiro para a bicicleta, o que mudou a minha vida e me permitiu chegar em Rio das Ostras. Sem o bagageiro, nem nas mais de 12 horas que eu demorei, eu conseguiria chegar. Teria ficado à noite, no meio da estrada. Questões que me surgiram no caminho:



Lucas e a bicicleta.


O Lucas é meu amigo de infância, é curiosamente o cara que me ensinou a andar de bicicleta e uma das pessoas mais maravilhosas e bondosas que eu já conheci na Terra. Na semana em que eu decidi fazer essa viagem, ele tinha comentado que comprou uma bicicleta de 400 reais, porque a dele tinha sido levada pela prefeitura. Quando eu vi que a minha tinha sido roubada, desconfiei por vários motivos, que ele tivesse escondido a minha bicicleta afim de me impedir de fazer essa "loucura".
 Pensei " ah, se ele não puder me emprestar a bicicleta, eu pago os 400 reais e ele compra uma nova". Quando nos falamos ele estava agoniado, mas me deu força. Só que a bicicleta que eu peguei não era a que eu achei que tinha pego, era outra, bem mais cara e especial. Eu já estava pedalando na pressa, para devolver. Pressa é uma coisa que não pode fazer tipo de uma viagem dessas.

Depois minha bicicleta foi achada, e eu fiquei me sentindo super culpado. O Lucas que me ensinou a andar de bicicleta não merecia ter a bicicleta roubada por mim. A bicicleta que eu estava usando, eu não poderia comprar de longe. Precisava me replanejar para devolver essa bicicleta o quanto antes.



Os amigos da estrada.

Depois de pôr o bagageiro em Saquarema, me senti outra pessoa. O desespero foi embora, porque embora continuasse difícil fazer os 70 quilômetros restantes até chegar na casa de amigos em Rio das Ostras, agora parecia possível. Estava louco para chegar de novo na Amaral Peixoto e me livrar do vento. Ele era tão cruel que eu tinha que pedalar mesmo nas descidas.

Quando cheguei à Amaral Peixoto, depois de passar por Bacaxá, gastei 1 real em um sacolé de manga, que estava delicioso. Enchi novamente minha garrafinha de água em uma estação do corpo de bombeiros . A água estava super gelada. Pronto, rumo a Araruama, que era bem próxima. Porém, o vento continuava, e fazer subidas com vento era impossível. Depois de Araruama, com o tempo passando, acabei tentando pegar um ônibus, não consegui nenhum por causa da bicicleta. Desisti e resolvi confiar nas pernas. Apesar do medo de ficar a noite na estrada.

Iguaba Grande... São Pedro...

Depois de uns bons 40 quilômetros de sofrimento, o vento resolveu dar uma trégua. Cheguei sete e meia da noite em Rio das Ostras. Estava me sentindo como se tivesse pago uma penitência, fiquei uma hora pedalando no escuro, e efetivamente me senti arriscando a vida. Ao longo do caminho parei em alguns pontos,  lojas, bares, borracharias... Estava querendo reduzir minha pedalada, encurtar o tempo - uns caras que trabalhavam com o caminhão da coca-cola até queriam me dar uma carona, sinceramente, mas ficaram com medo da fiscalização- todos me diziam a mesma coisa: "se você quiser atravessar o país, vai para a BR-101, ou outras rodoviais nacionais, e para nos postos dos caminhoneiros. Muitos vão te ajudar."


O fim do dia.

Finalmente cheguei em Rio das Ostras. Tinha combinado com o Bruno Mattos, via facebook, militante do PSOL, trabalhador da área do meio ambiente, e ativista político também. Quando cheguei, o Bruno estava em uma audiência pública e eu fui recebido pela Mel, sua companheira.
Pude tomar um banho, e comer um estrogonoffe maravilhoso. (não vai rolar restrição vegetariana na viagem, vou comer o que me for ofertado, mas já estou diminuindo bem, de todo modo)

Fiquei dois dias pensando na vida e recebido em uma conchinha de felicidade partilhada e vida comunitária. São pessoas libertárias e maravilhosas, conseguimos ler um livro inteiro juntos.

Foi Incrível.


Retrocesso conjuntural e mudanças de planos.

Aí eu já tinha decidido que não queria pagar penitência e nem ficar com aquela bicicleta. Vou viajar sim, mas vou usar a bicicleta para mobilidade urbana e arranjar outros meios alternativos de cruzar os trajetos.

Voltei para o Rio de Janeiro de ônibus na quarta-feira. Devolvi a bicicleta do Lucas e peguei a que eu ia usar de volta.

Volto para a estrada segunda-feira. Melhor planejado.

Precisava do impulso. E conhecer a Mel e o Bruno.






domingo, 19 de agosto de 2012

Primeiro dia da viagem


 Arrumo tudo, me esvazio de todos os objetos de desejos, de todos os pensamentos, todos os personagens. Estou centrado, internamente desejoso, feliz. Abro a porta de casa, desço. Surpresa:
A bicicleta foi providencialmente roubada. Não acredito que alguém, um amigo, ou o destino, deliberadamente, tentou me impedir dessa forma de viajar. Por um segundo todo o ódio do destino me atinge, mas é só um segundo. Eu penso em fazer um boletim de ocorrência, mas na casa tem outra bicicleta, não é minha. Mas, eu deixo todo o meu equipamento profissional de fotografia como garantia, com um recado, e mais 100 reais, metade do que tinha separado para viagem.

Nada, naquele minuto, era mais importante para mim, do que ter uma bicicleta. Eu não ia desistir antes de começar, nem começar na delegacia.

Começo - Botafogo, Aterro do Flamengo, praça XV, barcas...

Em frente ao MAC, em Niterói, paro para tomar uma água de coco. O vendedor comenta da pressa despropositada das pessoas que estão passeando em pleno Domingo.  Eu concordo, conto a minha história: a desilusão, a despedida, o desafio. Ele devolve o meu dinheiro. Ronaldo, o vendedor de coco de Niterói, foi a primeira pessoa boa comigo nessa viagem.

Continuo- Icaraí, Dr. Mario Viana, Estrada Caetano Monteiro (e dá-lhe subida), Estrada Velha de Maricá, Amaral Peixoto e é noite.


Chego em Maricá! Achando a bicicleta muito leve, estável, muito muito boa.O Flamengo vence o Vasco, eu converso com as pessoas, consigo guardar as minhas coisas em uma pousada. Na pousada me dão água e frutas. Passeio, entro em uma parque de diversão, vejo a roda gigante e sinto um amor imenso pelo mundo e uma gratidão com a vida. Eu não quero nada e me sinto livre. Me preparo para dormir na sala de espera do hospital público, que por algum motivo misterioso e divino, tem banda larga liberada.
Gastei 4,50 da barca.

Estou feliz.
Vou dormir com outro irmão sem melhor abrigo.

Djalma, meu irmãozinho, quantas pessoas pedalaram 3 mil kilometros para te dar um abraço?
Até breve, São Luis.